O viés de confirmação refere-se à nossa tendência para procurar, interpretar, favorecer e recordar informações de forma a confirmar as nossas crenças ou hipóteses pré-existentes, ao mesmo tempo que minimizamos ou ignoramos dados que possam contradizer as nossas ideias anteriores. Este preconceito, profundamente enraizado na cognição humana, desempenha um papel significativo na forma como percepcionamos e nos relacionamos com o mundo que nos rodeia.
Para compreender melhor este fenómeno, é essencial considerar como funcionam os nossos processos cognitivos. Somos confrontados com uma enorme quantidade de informação que nos chega do ambiente e precisamos de utilizar certos atalhos mentais ou heurísticas para processar essa informação de forma eficiente. Estas heurísticas, embora úteis, podem muitas vezes levar a distorções cognitivas, como o viés de confirmação.
Como é que o Viés de Confirmação nos afecta?
Este preconceito manifesta-se de várias formas. Por exemplo, no domínio da tomada de decisões, uma pessoa pode procurar ativamente informações que apoiem a sua decisão anterior e evitar ou desacreditar informações que a contradigam. Isto pode levar a decisões menos informadas e, nalguns casos, a erros significativos de julgamento. No domínio da investigação, um cientista pode ter tendência para dar mais peso aos dados que apoiam a sua hipótese, enquanto desconta ou subestima os que a refutam, o que pode levar a conclusões enviesadas.
O viés de confirmação também desempenha um papel importante na formação e manutenção de crenças e atitudes sociais. Por exemplo, no domínio da política, é comum as pessoas procurarem e darem crédito principalmente a fontes de informação que reforçam as suas próprias ideologias, enquanto ignoram ou menosprezam as que apresentam perspectivas opostas. Este facto pode contribuir para a polarização e o reforço das câmaras de eco, onde grupos de pessoas ficam isolados nas suas próprias bolhas de informação, reforçando as suas crenças pré-existentes.
Viés de confirmação na terapia psicológica
Em psicoterapia, o viés de confirmação pode manifestar-se de várias formas, tanto nos terapeutas como nos pacientes, afectando o processo terapêutico e os seus resultados. É muito importante que os profissionais de saúde mental estejam conscientes deste enviesamento, de forma a minimizar o seu impacto negativo na terapia.
Para os terapeutas, o viés de confirmação pode surgir quando formulam hipóteses sobre os seus pacientes. Por exemplo, se um terapeuta tiver uma crença preconcebida de que os problemas de um paciente se devem a uma dinâmica familiar problemática, pode procurar ativamente informações que apoiem esta hipótese durante as sessões, ignorando ou minimizando pormenores que sugiram outras causas possíveis. Isto pode levar a um diagnóstico incorreto ou a uma abordagem terapêutica inadequada. Para contrariar esta situação, os terapeutas devem esforçar-se por manter uma mente aberta, considerar várias hipóteses e estar dispostos a ajustar as suas crenças com base nas provas apresentadas pelo doente.
Nos pacientes, o viés de confirmação pode influenciar a forma como eles percebem seu próprio progresso e como respondem à terapia. Um paciente que acredita firmemente que a sua situação é imutável pode interpretar qualquer experiência negativa como uma confirmação dessa crença, ignorando ou minimizando os desenvolvimentos ou momentos positivos. Este preconceito pode perpetuar sentimentos de desesperança e pode ser um obstáculo à mudança positiva. Durante a terapia, é importante que o terapeuta ajude o paciente a reconhecer e a desafiar estas crenças auto-limitantes, encorajando uma visão mais equilibrada das suas experiências e capacidades.
Além disso, o viés de confirmação pode afetar a relação terapêutica. Se tanto o terapeuta como o paciente tiverem crenças firmes sobre o que funciona na terapia, podem, em conjunto, ignorar sinais de que a abordagem atual não é eficaz. Por exemplo, um terapeuta e um paciente podem acreditar fortemente na eficácia de uma técnica específica e, como resultado, podem interpretar qualquer melhoria, por menor que seja, como uma confirmação de sua eficácia, enquanto ignoram a falta de melhoria substancial.
Como lidar com esse viés
Mitigar o efeito do viés de confirmação é muito importante tanto na prática clínica como na vida quotidiana. Este viés pode limitar a nossa capacidade de ver as situações de forma objetiva e de tomar decisões informadas. Felizmente, existem várias estratégias que nos permitem lidar com este enviesamento e reduzir a sua influência na nossa perceção. Eis algumas delas:
- Consciência ativa do preconceito: O primeiro passo para atenuar o enviesamento de confirmação é reconhecer que todos somos susceptíveis de o sofrer. A consciência dos nossos preconceitos cognitivos permite-nos ser mais críticos e refletir sobre as nossas decisões e crenças. É essencial promover um estado de auto-consciência e reflexão contínuas.
- Procura intencional de provas contrárias: Uma técnica eficaz consiste em desafiarmo-nos a procurar ativamente informações que contradigam as nossas crenças actuais. Isto implica consultar diversas fontes, ouvir opiniões alternativas e considerar cenários que não correspondem às nossas suposições pré-existentes.
- Diálogo e perspectivas alternativas: Na terapia, como em muitas áreas da vida, a troca de ideias com os outros pode ser um recurso valioso. Discutir as nossas crenças e decisões com colegas, amigos ou familiares pode fornecer novas perspectivas e revelar pontos cegos no nosso pensamento.
- Pensamento crítico e análise reflexiva: Incentivar o pensamento crítico é essencial. Isto implica questionar sistematicamente os nossos pressupostos e as provas que os sustentam, analisando criticamente a qualidade e a fonte da informação que recebemos.
- Técnicas de atenção plena e auto-observação: Práticas como a meditação da atenção plena podem ser úteis para desenvolver uma maior consciência dos nossos padrões de pensamento automáticos e tendenciosos. Estas técnicas ajudam a cultivar um estado de espírito mais equilibrado e concentrado, reduzindo a tendência para nos agarrarmos a crenças sem uma análise adequada.