Os mecanismos de defesa são um dos conceitos da psicologia que suscitam frequentemente muito interesse, tanto a nível profissional como em conversas de café. Estas estratégias psicológicas são essencialmente os truques que a nossa mente emprega para nos proteger de pensamentos ou sentimentos que possam ser perturbadores ou ameaçadores. Não se trata de simples armadilhas mentais, mas sim de processos complexos que nos ajudam a gerir a ansiedade, o stress e as emoções avassaladoras. Os mecanismos de defesa funcionam a um nível inconsciente, o que significa que muitas vezes não temos consciência de que os estamos a utilizar.
Quando falamos de mecanismos de defesa, somos obrigados a falar de Sigmund Freud, o pai da psicanálise, que introduziu este conceito, embora tenha sido a sua filha Anna Freud quem realmente se aprofundou no estudo dos mecanismos de defesa do eu. Anna não só se debruçou sobre os aspectos teóricos, como também forneceu uma dimensão mais aplicada, classificando estes mecanismos de forma a facilitar a análise clínica e a intervenção terapêutica.
A compreensão dos mecanismos de defesa não é apenas um exercício académico ou uma curiosidade intelectual. É fundamental para qualquer terapia psicológica, pois oferece-nos uma janela para a forma como as pessoas gerem o seu desconforto, conflitos e traumas. Além disso, é uma ferramenta indispensável para a psicoterapia, qualquer que seja a abordagem teórica, porque, em última análise, estamos a lidar com as defesas que cada indivíduo construiu ao longo da sua vida.
Quais são os mecanismos de defesa mais comuns?
Vamos aprofundar alguns dos diferentes mecanismos de proteção ou defesa que a nossa mente utiliza de acordo com as propostas de Freud e da sua filha Anna, dando alguns exemplos de cada mecanismo para que os possa compreender mais facilmente (ou até perceber se os utiliza e não sabia)
Repressão
Este é um dos mecanismos de defesa mais conhecidos e, de facto, foi Freud quem realmente colocou este conceito no mapa da psicologia. A repressão é basicamente como o serviço de segurança pessoal do eu. Quando há pensamentos, memórias ou desejos que são demasiado ameaçadores ou perturbadores, o eu reprime-os, enviando-os para o inconsciente. Não é que desapareçam, são simplesmente guardados numa espécie de cofre emocional, longe da consciência.
Mas aqui entra a parte que nos interessa: apesar de reprimidos, estes elementos não deixam de influenciar o nosso comportamento. Podem manifestar-se de forma indireta, como sonhos, esquecimentos ou mesmo sintomas físicos. É como se esses pensamentos reprimidos fossem fantasmas que assombram uma casa, invisíveis, mas que definitivamente marcam presença.
Exemplo clássico: Imagine que, em criança, teve uma experiência traumática com um cão. Pode reprimir a memória para evitar o desconforto que ela causa. No entanto, pode desenvolver uma fobia inexplicável de cães, sem se lembrar porque é que se sente assim. Neste caso, a repressão actua como uma proteção, permitindo-lhe funcionar sem se sentir constantemente angustiado pela memória traumática. Mas também tem um custo, sob a forma de fobia.
Então, o que é que se pode fazer em relação à repressão? Na terapia, um dos objectivos pode ser trazer à tona esses pensamentos ou memórias reprimidos para que possa abordá-los de uma forma mais saudável. Não é um processo fácil, mas é uma forma de retirar o poder a esses fantasmas e permitir-lhe viver de uma forma mais autêntica e menos limitada.
Deslocação
Se a repressão é enviar os seus pensamentos ou emoções para uma“cave” inconsciente, a deslocação é mais como mudá-los para uma “sala” diferente Por outras palavras, pega na energia emocional ou impulso que sente em relação a uma pessoa ou situação e redirecciona-o para algo ou alguém menos ameaçador.
Aqui está a chave: o alvo original do impulso pode ser algo que representa uma ameaça ao seu bem-estar emocional ou mesmo à sua integridade física. Assim, a deslocação funciona como um mecanismo de fuga, permitindo-lhe libertar a tensão sem enfrentar consequências negativas directas. No entanto, tal como outros mecanismos de defesa, a deslocação tem o seu lado negro; pode acabar por prejudicar relações ou aspectos da sua vida que, na verdade, nada têm a ver com o problema original.
Um exemplo clássico é o do empregado que está a ter um dia mau no trabalho, talvez porque o patrão gritou com ele ou porque está sob muito stress. Em vez de lidar com a situação, que pode acarretar riscos como a perda do emprego ou o agravamento das relações de trabalho, este trabalhador vai para casa e descarrega a sua frustração na família ou no animal de estimação. Neste caso, o trabalhador está a deslocar a sua raiva para um alvo “mais seguro”, mas, ao fazê-lo, está também a poluir o seu ambiente doméstico com emoções negativas.
A terapia pode ajudá-lo a identificar e a gerir estes padrões de deslocação, permitindo-lhe enfrentar mais diretamente as emoções e as situações que os desencadeiam. Ao fazê-lo, não só diminui a carga emocional noutros aspectos da sua vida, como também aborda de forma mais eficaz as causas profundas do problema. Como sempre, o auto-conhecimento é a chave para descobrir estas paisagens emocionais intrincadas.
Projeção
Já alguma vez lhe aconteceu ver claramente uma falha ou um problema em alguém, mas depois aperceber-se de que está a descrever exatamente aquilo de que não gosta em si? Isso é a projeção no seu melhor. A projeção é como um espelho emocional que desvia a atenção das suas próprias inseguranças ou defeitos, reflectindo-os noutra pessoa. Em suma, atribui as suas próprias qualidades, especialmente as menos atraentes, a outras pessoas.
A ironia da projeção é que, muitas vezes, as pessoas que fazem isto estão completamente convencidas de que o problema está realmente na outra pessoa. Por exemplo, imagine que se sente inseguro em relação ao seu próprio nível de inteligência ou conhecimento num grupo de estudo ou no trabalho. Em vez de enfrentar e trabalhar as suas próprias inseguranças, pode começar a criticar a inteligência dos seus pares ou colegas, afirmando que são eles que realmente não compreendem o que se está a passar.
Outro exemplo clássico é o do casal em que um dos parceiros se sente atraído por outra pessoa fora da relação. Em vez de enfrentar este sentimento e compreender o que ele significa, pode acusar o seu parceiro de ser infiel ou de pretender ser infiel. É como dizer: “O problema não sou eu, és tu” Mas, na realidade, o problema inicial está na pessoa que projecta esses sentimentos.
E já que estamos a falar de relacionamentos, também há casos em que a projeção envolve qualidades positivas. Por exemplo, podemos idealizar alguém, atribuindo-lhe características que desejamos para nós próprios. Neste caso, a projeção torna-se uma forma de evitar a tarefa de desenvolver essas qualidades em si próprio.
Embora a projeção possa oferecer um alívio temporário de emoções difíceis, muitas vezes complica ainda mais as coisas a longo prazo, tornando-se por vezes muito destrutiva. A terapia pode ajudar a desmantelar estes padrões projectivos, permitindo uma compreensão mais clara de si próprio e das relações com os outros.
Negação
É a recusa total de aceitar uma realidade demasiado dolorosa ou ameaçadora. Não estamos a falar de mero ceticismo ou dúvida; estamos a falar de uma recusa total e completa de enfrentar os factos.
Porque é que alguém faria isto? Bem, a negação não é necessariamente má em si mesma. De facto, pode ser útil a curto prazo. Imagine que recebe uma notícia devastadora, como um diagnóstico médico grave. Um período inicial de negação pode ser uma espécie de “almofada emocional” que lhe dá tempo para se adaptar a uma nova e dura realidade. Mas, tal como acontece com muitos mecanismos de defesa, o problema surge quando a negação é prolongada ou aplicada em situações em que enfrentar a realidade é muito importante.
Quer exemplos, não quer? Um exemplo clássico é o do alcoólico que insiste que não tem problemas com a bebida, apesar de esta estar a afetar a sua saúde, o seu emprego e as suas relações. Ao negar o problema, ele evita a dor emocional que viria com o reconhecimento, mas também se priva de procurar ajuda e melhorar a sua situação.
Outro exemplo pode ser o de alguém que está numa relação romântica tóxica mas se recusa a admitir os sinais de alerta, como o comportamento abusivo ou o controlo excessivo. Neste caso, a negação actua como um escudo, protegendo a pessoa da dor emocional que adviria de aceitar que a sua relação não é saudável. Mas esse escudo também actua como uma barreira que impede a pessoa de tomar medidas para mudar a situação.
Compreender a negação requer empatia e autoanálise. A terapia pode ajudá-lo a explorar as raízes da negação e a encontrar formas mais saudáveis de lidar com realidades dolorosas ou incómodas.
Racionalização
Em vez de negar uma realidade ou projetar sentimentos indesejados nos outros, a racionalização procura explicar o comportamento ou as circunstâncias de uma forma que os faça parecer mais racionais, lógicos ou socialmente aceitáveis. É como se o seu Eu se tornasse um advogado de defesa, criando argumentos para justificar algo que, no fundo, você sabe que é questionável.
O perigo da racionalização é que ela pode ser incrivelmente persuasiva. Muitas vezes, as explicações que criamos parecem tão razoáveis que até nós próprios acreditamos nelas. E é aí que reside o risco: embora a racionalização possa aliviar a culpa, a ansiedade ou o conflito interior, também nos pode afastar de uma compreensão mais honesta e direta de nós próprios e das nossas acções.
Por exemplo, imagine que alguém passa todo o fim de semana a ver programas de televisão em vez de estudar para um exame importante e depois chumba. Ele pode racionalizar o seu comportamento dizendo: “Bem, eu precisava de uma pausa, o professor não ensina bem de qualquer maneira e um único exame não determina o meu valor” Embora cada um destes pontos possa ter um pouco de verdade, no seu conjunto funcionam como uma cortina de fumo que evita enfrentar a realidade mais direta: a procrastinação e a falta de preparação.
Outro caso clássico é o das “uvas verdes” na fábula de Esopo “A raposa e as uvas“. A raposa não consegue chegar a umas uvas que estão demasiado altas na videira e racionaliza o seu fracasso dizendo que as uvas provavelmente já estavam azedas. Esta é uma tentativa de fazer com que o seu fracasso pareça menos doloroso, mudando a narrativa.
É natural querermos evitar a dor emocional ou o conflito, e a racionalização é muitas vezes uma saída rápida. Mas se este mecanismo de defesa se tornar um padrão recorrente, pode ser um obstáculo ao crescimento pessoal e à autenticidade. Na terapia, o objetivo seria identificar onde e quando se está a racionalizar e, em seguida, explorar as emoções e crenças subjacentes que estão a conduzir este comportamento. Afinal de contas, conhecermo-nos a nós próprios é o primeiro passo para qualquer tipo de mudança significativa.
Formação reactiva
Este mecanismo envolve a transformação de um impulso, desejo ou sentimento inaceitável no seu oposto, e muitas vezes de forma exagerada.
Se a repressão é como colocar algo numa gaveta e trancá-la, a formação reactiva é como colocar esse mesmo objeto numa vitrina e rodeá-lo de luzes brilhantes para todos verem. Mas o que é exibido é exatamente o oposto do que se quer realmente esconder.
Vamos aos exemplos, que são sempre esclarecedores. Imagine uma pessoa que sente um forte ressentimento em relação ao seu chefe. Em vez de exprimir abertamente esse sentimento ou mesmo de o admitir a si próprio, age com extrema bondade e deferência para com o seu chefe. Talvez lhe leve café todas as manhãs ou elogie constantemente as suas capacidades de liderança. À primeira vista, parece ser o empregado do mês, mas na realidade está a utilizar uma formação reactiva para gerir sentimentos que considera inaceitáveis.
Outro exemplo comum é o de alguém que tem sentimentos homossexuais, mas que os considera inaceitáveis devido à sua educação ou às suas crenças pessoais. Esta pessoa pode tornar-se um acérrimo defensor de políticas anti-LGBTQ como forma de“provar” a sua própria heterossexualidade, tanto para si próprio como para os outros.
Como pode ver, a formação reactiva pode ser um mecanismo de defesa bastante elaborado e muitas vezes enganador. Do lado de fora, pode ser difícil ver o que realmente se está a passar. E, por dentro, a pessoa pode acabar por acreditar no seu próprio desempenho. A terapia pode ser útil para desvendar estes comportamentos, permitindo-lhe confrontar e gerir de forma mais saudável os impulsos ou sentimentos que está a tentar evitar.
Se prestar atenção, pode descobrir que este mecanismo tem alguma semelhança com a negação. A diferença é que, no treino reativo, em vez de vivermos simplesmente de costas para um problema ou situação, tentamos afastar-nos o mais possível dele.
Introjeção
A introjeção é um daqueles mecanismos de defesa que pode parecer um pouco abstrato à primeira vista, mas que é incrivelmente revelador quando o compreendemos. Basicamente, a introjeção envolve a interiorização de qualidades, atitudes ou normas de figuras externas importantes, como os pais, mentores ou mesmo grupos sociais. É como se pegássemos numa parte do mundo exterior e a incorporássemos no nosso próprio sentido de identidade para gerir a ansiedade, o conflito ou a insegurança.
Este mecanismo é especialmente comum na infância. As crianças introjectam frequentemente qualidades dos seus pais como forma de se sentirem mais seguras e ligadas. Mas não se engane, os adultos também o fazem. Por exemplo, alguém que cresce num ambiente onde a autonomia é altamente valorizada pode introjectar essa norma ao ponto de se sentir muito desconfortável em pedir ajuda, mesmo quando necessário. Ou pense no caso clássico da “síndrome do impostor“, em que alguém introjecta padrões tão elevados que sente que nunca é suficientemente bom.
A introjeção não é inerentemente má. De facto, pode ser uma forma valiosa de aprender e de se adaptar. No entanto, quando as qualidades ou padrões introjectados são prejudiciais ou irrealistas, pode levar a problemas emocionais e comportamentais. Se estivermos sempre a tentar corresponder a expectativas internas que são impossíveis de alcançar, estamos a preparar-nos para o fracasso e a desilusão constantes.
Outro exemplo pode ser alguém que cresceu com um pai muito crítico e introjectou essa voz crítica. Mesmo que o progenitor já não esteja fisicamente presente, essa voz crítica interna persiste, levando a pessoa a ser excessivamente dura consigo própria em várias situações.
Na terapia, um dos objectivos seria identificar o que introjectámos e como isso está a afetar a nossa vida e bem-estar. A partir daí, podemos trabalhar no sentido de desmantelar ou modificar essas interiorizações para que estejam mais de acordo com o nosso eu autêntico e com as nossas próprias necessidades e desejos. É uma viagem fascinante de auto-descoberta, e é sempre gratificante quando alguém consegue substituir uma introjeção prejudicial por algo mais positivo e benéfico.
Isolamento
Esta é a tática do Self para separar um pensamento da emoção ou ansiedade que lhe está associada, quase como dissociar o conteúdo emocional do conteúdo cognitivo.
Este mecanismo pode ser especialmente útil em situações extremamente stressantes. Por exemplo, os profissionais de saúde têm muitas vezes de usar uma forma de isolamento para separar as suas emoções da tarefa imediata que têm em mãos, como a realização de uma cirurgia complicada. Neste tipo de situações, o isolamento é vital; permitir que as emoções interfiram pode ter consequências graves.
Mas, como todos os mecanismos de defesa, o isolamento tem o seu lado negro. Usado em excesso ou em contextos em que lidar com as emoções é fundamental, pode levar a problemas. Imagine-se a passar por uma separação dolorosa, mas forçar-se a pensar nela como um acontecimento que“tinha de acontecer” ou“é o melhor para ambos“, eliminando qualquer dor ou tristeza que sinta. Pode parecer que se está a adaptar bem, mas, na realidade, está a evitar processar emoções importantes que acabarão por vir à superfície.
Outro exemplo pode ser o de alguém que passa por um acontecimento traumático e é capaz de falar sobre ele com total distanciamento emocional, como se estivesse a contar uma lista de compras. Este distanciamento emocional pode ser desconcertante para os outros e, mais importante ainda, pode ser um obstáculo ao processamento emocional e à cura a longo prazo.
Como vê, o isolamento é uma faca de dois gumes. Pode ser um salva-vidas em situações em que a objetividade é fundamental, mas um obstáculo quando nos impede de enfrentar e processar as nossas emoções. Na terapia, o trabalho consistiria em identificar quando e como se está a usar o isolamento e encontrar formas mais saudáveis e abrangentes de gerir o stress e a dor emocional.
Fantasia
quem nunca sonhou acordado com a possibilidade de ganhar a lotaria, tornar-se uma estrela de rock ou partir numa aventura épica? A fantasia como mecanismo de defesa é basicamente uma forma de escapismo, uma maneira de fugir das realidades menos agradáveis da vida e retirar-se para um mundo imaginário onde tudo é possível e, normalmente, tudo é muito melhor.
Ora, sonhar acordado de vez em quando é completamente normal e até saudável. É uma forma de descanso mental e pode ser uma fonte de criatividade e inspiração. O problema surge quando sonhar acordado se torna uma espécie de refúgio constante para não enfrentar problemas reais, responsabilidades ou emoções incómodas. Se está sempre a imaginar que é o herói que salva o dia em vez de enfrentar o facto de estar a ter problemas no trabalho ou numa relação, pode estar a usar a fantasia como mecanismo de defesa.
Por exemplo, um estudante que não esteja a ter um bom desempenho escolar pode afundar-se em fantasias em que é um génio incompreendido ou um atleta famoso, em vez de abordar os problemas que estão a afetar o seu desempenho académico. Ou alguém que tenha uma relação insatisfatória pode perder-se em fantasias românticas com uma alma gémea fictícia, em vez de resolver os problemas da sua relação atual.
A fantasia torna-se problemática quando substitui a ação e o compromisso no mundo real. É como se estivesse a olhar para a vida através de uma janela em vez de sair e vivê-la. Nesse caso, a terapia pode ajudá-lo a perceber como e porque está a usar a fantasia como mecanismo de defesa. O objetivo não é eliminar a capacidade de sonhar ou imaginar, mas ajudá-lo a usar essa energia criativa de uma forma que enriqueça a sua vida real em vez de a substituir.
Regressão
Quando a vida se torna complicada ou stressante, há uma tendência para regredir para fases anteriores do desenvolvimento em que as coisas eram, ou pelo menos pareciam, mais simples. Não me refiro a fraldas e chupetas, embora isso fosse levar a regressão ao extremo, mas a comportamentos e atitudes mais subtis que correspondem a fases anteriores da sua vida.
Por exemplo, um adulto que esteja a atravessar um período de stress no trabalho pode começar a roer as unhas, um hábito que já tinha ultrapassado há anos. Ou talvez alguém que esteja a enfrentar uma mudança de vida significativa, como um divórcio ou a perda de um ente querido, possa começar a dormir com um animal de peluche ou um cobertor da infância. A nível emocional, pode notar que alguém se torna mais carente e procura conforto de formas tipicamente associadas à infância, como querer ser abraçado ou receber afeto de forma mais visível.
A regressão torna-se um problema quando estes comportamentos interferem com a capacidade de lidar efetivamente com as responsabilidades e desafios da vida adulta. Imagine que está tão stressado que começa a faltar ao trabalho para ficar em casa a ver desenhos animados todo o dia; isso seria um sinal de que a regressão está a afetar o seu funcionamento.
Em terapia, o objetivo seria identificar os factores que desencadeiam esta regressão e encontrar formas mais adaptativas de gerir o stress ou a ansiedade. Por vezes, isso pode implicar o desenvolvimento de novas competências para lidar com a situação. Outras vezes, pode envolver a exploração de questões não resolvidas de fases anteriores da vida que possam estar a contribuir para este desejo de“regredir” no tempo.
Estes mecanismos de defesa são maus?
O que é interessante aqui é que estes mecanismos não são inerentemente maus. Em muitos casos, são adaptativos e necessários para a saúde mental. Mas tornam-se problemáticos quando são usados em excesso ou de forma inadequada, o que pode levar a problemas de relacionamento, auto-engano e, em casos extremos, a distúrbios psicológicos. Na psicoterapia, parte do trabalho consiste em ajudar as pessoas a reconhecer e a compreender os seus mecanismos de defesa, para que possam encontrar formas mais saudáveis de gerir o stress e a ansiedade.
Então, o que é que podemos aprender com tudo isto? Em primeiro lugar, que estes mecanismos existem por uma razão e têm um objetivo. Em segundo lugar, que a auto-consciência é fundamental. Ao compreender os mecanismos que está a utilizar, pode começar a abordar as preocupações subjacentes de uma forma mais direta e saudável.