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O Self de Carl Jung

Para Jung, o self é o arquétipo central, o núcleo da totalidade do inconsciente e da consciência. É como o Sol num sistema solar psíquico onde os outros arquétipos e complexos são como planetas que orbitam à sua volta. Mas não devemos confundir o self com o ego. O ego é a parte consciente da nossa psique, que nos permite reconhecermo-nos como indivíduos separados do meio ambiente. O self, por outro lado, é uma entidade mais ampla que engloba tanto o ego como tudo o que está para além dele: a sombra, a anima ou animus e o inconsciente coletivo.

La búsqueda del sí-mismo o self.

Um dos objectivos da vida, de acordo com a visão de Jung, é o processo de individuação, que é basicamente a realização do Self. Trata-se de uma viagem interior, uma viagem através da qual integramos as diferentes partes da nossa psique. Não é apenas uma questão de nos conhecermos melhor, mas de alcançarmos uma espécie de equilíbrio interior e, em última análise, de realização. Esta realização não é um estado estático, mas um processo contínuo de transformação e autorreflexão.

Agora, como é que se chega à realização do eu? É aqui que entram em jogo outros conceitos junguianos, como a sombra e os arquétipos da anima e do animus. A sombra é a parte de nós que preferimos não ver: os nossos impulsos obscuros, as nossas inseguranças, as nossas contradições. E a anima ou o animus são as qualidades e os aspectos psíquicos opostos ao nosso género que precisamos de integrar para alcançarmos uma maior plenitude. Neste processo de individuação, confrontamos e, esperamos, integramos estes aspectos para nos aproximarmos do eu.

A base para a auto-realização é a autorreflexão e o auto-conhecimento. Isto pode ser feito através de uma série de práticas, embora a prática mais autêntica seja a própria vida, vivendo de uma forma consciente de como agimos e pensamos em todos os momentos.

Antes de começarmos a descrever algumas das práticas mais comuns para a auto-realização, vamos falar um pouco sobre os princípios básicos que mencionámos.

A autorreflexão é como a sua bússola interna. É o ato de parar, olhar para dentro e perguntar a si próprio: “O que é que se passa aqui?” Pode ser tão simples como analisar as suas emoções e pensamentos num dado momento, ou tão complexo como rever os seus padrões de comportamento ao longo do tempo. O importante é que esteja a dar um passo atrás, observando-se a si próprio a partir de uma certa distância. Em termos junguianos, está a permitir que o seu ego se relacione com outros aspectos da sua psique, seja a sombra, a anima/animus, ou mesmo arquétipos mais amplos. Esta prática dá-lhe uma perspetiva extremamente valiosa que o pode ajudar a lidar com as complexidades da vida e aproximá-lo do eu.

O auto-conhecimento é o tesouro que se ganha com toda esta escavação introspectiva. É a compreensão cumulativa de quem somos, como funcionamos e o que realmente queremos e precisamos. Se a autorreflexão é a bússola, então o auto-conhecimento é o mapa que se desenha com ela. Este mapa guiá-lo-á através do labirinto da vida e ajudá-lo-á a tomar decisões que estejam mais em sintonia com o seu verdadeiro eu. Sem este mapa, está, metaforicamente falando, a andar em círculos.

Psicoterapia

Para começar, a terapia é uma excelente forma de iniciar o processo de individuação. Não só porque lhe oferece um espaço seguro para explorar os seus sentimentos, pensamentos e sonhos, mas também porque um bom terapeuta pode atuar como uma espécie de guia através das regiões mais obscuras e enigmáticas da sua psique. A terapia é especialmente útil se escolher uma abordagem que valorize a profundidade psíquica, como a psicoterapia analítica junguiana, embora a minha querida psicoterapia existencial também tenha muito a contribuir neste domínio.

Meditação

A meditação e as práticas contemplativas também podem ser incrivelmente úteis. Não só o ajudam a cultivar uma mente mais calma e concentrada, como também podem facilitar experiências mais profundas de auto-consciência. Podem ajudá-lo a tornar-se mais consciente dos seus padrões de pensamento e reação, o que é fundamental para qualquer processo de individuação. Na tradição junguiana, pode até usar uma forma de meditação ativa para dialogar com diferentes aspectos da sua psique, incluindo os seus arquétipos e complexos.

Registo no diário

Outra prática muito poderosa que é muito útil neste processo de auto-investigação é a escrita reflexiva ou o diário. Não estou a falar apenas de documentar os acontecimentos do dia, mas de escrever mais profundamente sobre os seus pensamentos, sentimentos e experiências interiores. Esta prática pode ajudá-lo a tomar consciência dos seus complexos, das suas sombras e de outros elementos do seu inconsciente que podem estar a afetar o seu comportamento e bem-estar emocional. É como ter uma conversa contínua consigo próprio, e ficará surpreendido com a quantidade de conhecimentos e realizações que podem advir deste simples exercício.

Arte

A criatividade é outra via para a individuação. Isto pode incluir qualquer prática, desde a pintura e a música até à escrita criativa ou à escultura. O processo criativo permite-lhe exprimir e explorar partes de si próprio a que pode não conseguir aceder facilmente através da cognição ou da conversação. Quando se mergulha numa atividade criativa, coloca-se frequentemente num estado de fluxo que é altamente conducente à introspeção e ao auto-conhecimento.

Análise de sonhos

Carl Jung (assim como Freud e muitos outros psicanalistas) deu uma enorme importância ao conteúdo dos nossos sonhos como uma via para a exploração da nossa psique. Os sonhos são como mensagens codificadas do inconsciente que podem oferecer pistas valiosas sobre os aspectos da nossa psique que precisam de atenção. Não é necessário ser um especialista para começar; basta anotar os seus sonhos assim que acordar e refletir sobre os seus possíveis significados. Com o tempo, pode começar a ver padrões ou temas recorrentes que lhe oferecem pistas sobre coisas que estão a acontecer dentro de si e das quais não tinha consciência.

Relações com os outros

Por fim, a nossa relação com os outros pode também tornar-se uma óptima prática de introspeção. Embora a individuação seja, em muitos aspectos, uma viagem interior, não é um processo solitário. Todos fazemos parte de um contexto social e cultural que influencia quem somos, e as nossas relações podem funcionar como espelhos que reflectem aspectos do nosso eu que podemos não ter visto. Mantenha relações saudáveis, seja autêntico nas suas interacções e preste atenção à forma como se comporta com os outros e como os outros reagem a si. Tudo isto lhe dará informações valiosas sobre o seu estado atual na sua viagem rumo à individuação.

Ismael Abogado

Ismael Abogado

Psicólogo e aprendiz constante da mente e da alma.

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